quinta-feira, 3 de novembro de 2022

 Prêmio João Fontana: Edição 2022




Comissão julgadora da categoria slam:












Comissão julgadora da categoria poema:











Comissão julgadora da categoria conto:











Ganhadores da categoria Slam (Ensino Médio): 

1º lugar - Laura Cristine Pereira Bueno

Lgbtfobia

É foda ser Igbt nessa tal sociedade

Só de imaginar me dá crise de

ansiedade

Preconceito pra lá e pra cá

Isso só reforça o quanto ainda

precisamos lutar

Sua religião não é desculpa para

homofobia

Cara, Deus não disse para amar a

todos? Que ironia

Amar, ou manter as pessoas que

gosta por perto?

Essa "escolha" não é justa, pô cê

acha certo?

Pior é a zoação

Ser chamado de viado, bichinha,

sapatão

Para sua piadinha, ergo meu dedo

médio

Já que ela só tem graça, pra ti, que

tem privilégio

Adicionar comentário particular


2º lugar - Mayara de Souza Johann

Estou cansada...

Nas ruas eles gritam

 "gatinha", "ô lá em casa"

Todos dias eles implicam

com o tamanho do meu vestido

estou cansada desses pervertidos 

Estou cansada de ter medo de sair

e alguém me agredir.

Estou cansada de ter medo dos olhares,

de falarem das minhas roupas "vulgares".

Até quando vamos ter que ouvir falar

que mulher tem que lavar, passar, cozinhar,

dos filhos tem que cuidar.

Estou cansada de tanto ouvir,

ninguém pode me oprimir

tá na hora de começar gritar

e mostrar pra sociedade onde é o meu lugar.


3º lugar - Dhiuli Keli Avrella

Olhos fechados para a realidade

Vivo numa cidadezinha de humildade 

Com mia moradores na roça do que na cidade 

Porem, sempre tem, pessoas sem seriedade 

Que fazem as coisas às escondidas 

Os boatos e fofocas correm na boca dos fofoqueiros 

E onde ha fumaça, há fogo!

Poucos são punidos e muitos 

Nem da pra dizer, que abusam e traumas a vida toda 

Sem entregar pra policia os filhos da puta que estragaram suas vidas.

Então, se ninguém entregar esses covardes, como que a justiça será feita?

Ganhadores categoria poema (6º e 7º ano)

1º lugar - Lorenza Luza

COLHEMOS!

Hoje em dia muitas pessoas nos julgam,

Sem saber se está tudo bem.

Pois é, são esses os julgamentos, 

 Que hoje vão e vem.

Várias pessoas estão cometendo erros,

Quase todo mundo está frustrado. 

Mas o mundo não está perdido,

Deve apenas ser reencontrado.

No nosso mundo nem tudo é alegria,

Não temos só felicidades todo o dia.

Mas temos vitórias e consequências,

Porém é isso que nos dá competências.

Não são com estes meus versos,  

Que irei fazer o mundo mudar.

Mas talvez com estas palavras,

As pessoas comecem a se ajudar.

Devemos plantar ideias,

E ter coragem de enfrentar nossos erros,

E depois disso, alegria nós sentiremos.  

E assim talvez, quem sabe uma aprendizagem,

Colheremos.


2º lugar - Valentina Bassani Albarello

Minha Poesia

Essa poesia

Que esperei por tanto tempo

Para poder declamar 

Mas agora que ela está tão livre,

Ela só quer voar…

Essa poesia 

Com ideias tão distantes

Versos perdidos entre si

Que já não voam como antes.

Essa poesia

Que mais parece um conto de fadas

Sabe aquele com princesas?

Princesas encantadas.

Essa poesia 

Que as vezes me perco nas palavras

Mas sei que ainda me traz coragem 

me traz aprendizagem.

Essa poesia

Que eu gosto tanto

Esses seus ensinamentos

São citados como um canto…

Essa poesia

Me ensina tantos valores, 

Ela é meu guia

Assim como meus professores.

Essa poesia 

É como a escola,a vida

Como as sementes que plantei 

E que estive envolvida

Envolvida totalmente 

Nessa minha poesia 

Nesse meu jardim

Regando ideias e flores

Colhendo aprendizagens e valores.


3º lugar - Milena Zanatta Vaz

Meio ambiente

Proteção ambiental com consciência

é uma questão de sobrevivência.

Preservar o meio ambiente

Não parece importante

Por isso tem muita gente

Bastante ignorante.

Os homens não tem cuidado

Das florestas e do mar

A poluição por todo lado

E muita fumaça no ar.

Com a água poluída

O planeta vai morrer

Faça sua parte

Para a gente não sofrer.

Ajude o meio ambiente

Ele é nossa salvação

Não seja ignorante

Seja um bom cidadão.

Temos muito o que aprender

A plantar e a colher

Todo o esforço

Será recompensado

Para um mundo melhorado.


Ganhadores categoria Conto ( 8º e 9º ano)

1º lugar - Lorenzo Almeida da Rosa 

BATALHAS PSÍQUICAS

— Então… Conte novamente sobre os homens mascarados… — disse o Psicólogo.


O Soldado mantinha muitas feridas da guerra. Feridas tanto físicas quanto psicológicas. E ele se comprometeu a apoiar seu país mesmo sabendo destes… riscos. Ele, agora, estaria atendendo a sessões terapêuticas diárias, buscando tratar de, ao menos, a maioria de seus problemas.


— Eram… Meus inimigos, eu acho… Me recordo vagamente da lembrança de um deles vindo em minha direção, segurando o que eu imagino ser uma faca…


    Como mencionado anteriormente, o Soldado foi gravemente ferido ao decorrer da batalha. Seus machucados também atingiram drasticamente sua memória, tornando vívidas e coloridas lembranças em vultos dolorosos e monocromáticos.


— Entendo… Você consegue se recordar de quem ele era? — questionou o Psicólogo.

— Não… Não consigo lembrar de praticamente nada seu, embora lembro que seu uniforme tinha um notável tom de amarelo.

— Hmm… Certo. Progredimos bastante hoje, Soldado. Entretanto, nosso tempo acabou. Vemo-nos na próxima semana.

— Certo, doutor. Até mais…


Pensativo, o Soldado retornou ao seu lar. Ao entrar em seu apartamento e inspirar o distinto odor de mofo discretamente vindo dos cantos de seu apartamento, onde as pontas do quase descolorido papel de parede se encontravam, resolveu que faria algo, alguma bebida para ajudá-lo a se acalmar.

    Optando por deixar de lado e tratar daquele problema depois, tornou-se a fazer um chá de ervas; estava se sentindo agitado pelas tentativas de desenterrar seu passado hoje pela manhã. As ervas, entretanto, ele não sabia quais eram; apenas caules e folhas genéricas que encontrou em seu armário. Ferveu a água, derramou em sua xícara temática de coelhos, e pôs as folhas. Aguardou, aguardou… Ficou pronto. Assoprou o chá, procurando resfriá-lo, e tomou. Tomou, e apreciou. Não sabia quais eram aquelas ervas, mas gostou. Sentiu que isso seria rotina doravante. Após esse reflexivo curso de ações, resolveu dormir. E dormiu.

    Na manhã seguinte, se vestindo de forma que julgava apropriado e realizando uma rápida, básica refeição, composta de uma torrada completamente recheada de maionese temperada, duas fatias de presunto defumado e uma de queijo mussarela, posicionada entre as duas fatias de presunto, se aprontava para retornar ao consultório de seu psicólogo. A caminho, refletia sobre a sessão passada e tentava ligar os pontos. O presumido tom amarelado do uniforme de seu presumido inimigo ainda o deixava confuso; não tinha a menor ideia de como isso é importante de qualquer forma, mas sentia que deveria haver importância. Afinal, uma das escassas memórias que ainda restava de seu consciente danificado deveria ter alguma relevância… Certo?

Chegando lá, foi recebido pelo seu psicólogo, que exalava implicitamente um semblante angustiado – fato esse que o Soldado captou. Outra circunstância peculiar percebida pela perspicácia do Soldado foi música. Contrariando a monotonia climática de suas sessões anteriores, esta contava, por sua vez, com um suave tom de violino, mesclado com um aparente brando toque de violoncelo. Deixando de lado essa observação peculiar, ao decorrer de sua consulta, voltaram a tratar dos mesmos assuntos:


— Pode tentar se recordar de mais detalhes sobre o "inimigo de amarelo"?

— … Eu… Eu acho que ele vestia um chapéu… Não, era um capuz… Sim, definitivamente era um capuz. Lembro muito vagamente de um símbolo estampado na frente, parece uma aranha…

— Hmm… Muito interessante, Soldado.

— Doutor, se me permite perguntar… Por que está tocando música clássica?

— Bom, estudos recentes exibem resultados mais frequentes e conclusivos no progresso terapêutico de um indivíduo quando há a presença de música no processo. Especificamente, música clássica.

— Entendo… Acho que já podemos perceber resultados, hahaha.

— Definitivamente. Não imaginei que se adaptaria tão bem ao método… Acho que isto comprova aqueles estudos.

— É, eu também acho isso.

— Nos vemos amanhã então, Soldado?

— Com certeza, doutor.

— Até logo, então. Ah, mais uma coisa: gostaria de levar um dos CDs que tenho aqui, composto por algumas das músicas que ouviu hoje? Talvez isso aprimore ainda mais o progresso do seu tratamento.

— Ah… Sim, por favor.

    

No retorno ao seu lar, o Soldado se manteve reflexivo: apesar de sons deste “calibre” aparentarem aperfeiçoar as funções cognitivas de um indivíduo (por serem geralmente desfrutados por pessoas cultas e inteligentes), demonstrava certa desconfiança neste método. Para ele, esse conceito apenas não se “encaixava”. De qualquer forma, não conseguiu manter seus pensamentos elaborados por muito tempo; abrupta e repentinamente, sua cabeça começou a doer. “Começar” não seria exatamente a palavra ideal: o sentimento foi praticamente uma explosão.

— Augh! — exclamou o Soldado, que desabou ao chão, em meio a gemidos. Sua cabeça estava latejando e ele mal conseguia raciocinar para tentar lembrar — ou se perguntar — o porquê. Tentando se recompor, aparentando segurar sua cabeça enquanto tentava manter o equilíbrio. Tonto e bambaleante, tornou-se a voltar a caminhar em direção ao seu apartamento.

    Chegando em seu apartamento, inspirou profundamente, inalando o inesperado embora inevitável fétido odor de mofo dos cômodos de sua casa, e expirou desconforto e cansaço pela sua boca, que permaneceu levemente aberta mesmo após a ação. Com os olhos pesados e cabisbaixos, desabou sobre seu sofá; quando percebeu haver deixado sua televisão ligada. Com o corpo e seus músculos relaxados, prontos para ter o descanso que mereciam, ele perdidamente procurou o controle remoto para desligar a televisão; não podia se importar menos com o conteúdo que estava sendo exibido, queria apenas dormir. Encontrou-o, e desligou o aparelho.

    Uma vez desperto — e agora lúcido — tornou-se a indagar-se: por que estava tão exausto ontem? Não é como se tivesse se desgastado trabalhando — afinal, sua rotina se resumia basicamente em ir de casa para o consultório. Não conseguia enxergar nenhum motivo para sua fadiga… Invariavelmente, para variar, resolveu fazer seu café da manhã. Havia acordado relativamente cedo hoje, então tinha um tempo até que deveria deixar seu lar para ir à sua consulta. Vasculhando sua geladeira, encontrou sobra de panqueca do sábado passado. Parecia ainda estar bom para comer, apesar de ter passado 3 dias. Colocou no micro-ondas, e quando retirou, foi encantado pelo cheiro da massa e da carne quente. Comeu rapidamente, mas ainda estava com fome. Vasculhou sua geladeira novamente, e encontrou apenas uma fatia de presunto defumado, que foi o que restou de sua refeição do outro dia. Sem pão nem queijo para fazer um sanduíche, apenas comeu-o. Após suas refeições, se aprontou para ir à sua consulta.

    No caminho para lá, sua cabeça voltou a doer. Novamente, não havia explicação aparente; entretanto, como a dor era tolerável, ele permaneceu estável, andando, até o consultório. Chegando lá, foi recebido, e sua sessão iniciou. Seu psicólogo parecia melhor desta vez, e não havia música. Parecia haver até uma atmosfera… obscura.

    — Bom dia, Soldado. Como está?

— Não estou muito bem, doutor. Ultimamente, desde a última sessão, estive tendo fortes dores de cabeça, e não consigo identificar o porquê.

Sem o Psicólogo ter a chance de falar, as dores de cabeça retornaram, e, dessa vez, muito mais poderosas. O Soldado conseguia ouvir a música que ouviu ontem, ecoando pelas paredes de sua cabeça. E começou a ver flashes, luzes piscantes que pareciam cobrir todo seu campo de visão, como poderosas alucinações. Ele começou a ter vislumbres vívidos e coloridos de diversos soldados, que pareciam estar em uma guerra. Seria essa a guerra que ele teria lutado?

Ele percebeu que seus presumidos aliados usavam roupas alaranjadas, remetendo à lembrança anterior. Não usavam capuzes; ao invés disso, o “logotipo” provinha de seus uniformes, estampados não com uma aranha, mas com uma estrela, o Sol.

— Soldado, você está bem? Soldado!? — exclamou o Psicólogo, preocupado, a um Soldado que estava agora no chão, imóvel.

Os vislumbres continuaram. Sua próxima visão demonstrou uma medalha, uma medalha de guerra. No verso do medalhão, havia um nome: John. O Soldado, expressou extrema familiaridade com este nome, demonstrando surpresa ao lê-lo. “Seria esse o meu nome?”, o Soldado pensou. “Fui chamado apenas de ‘Soldado’ desde que consigo me lembrar. Seria esse o meu verdadeiro nome?”.

— Johnnn… — o Soldado murmurou. O Psicólogo ficou espantado por isso, aparentando ter ciência deste nome e sua importância para o Soldado.

Após isso, o Soldado viu um vilarejo. Um vilarejo em chamas. As únicas pessoas presentes ali, além de ele mesmo e seus companheiros, estavam mortas, carbonizadas e imóveis, no chão. Ele estava segurando uma arma, e três de seus parceiros, um lança-chamas. Eles claramente eram responsáveis por aqueles eventos, mas… por quê? Por que alguém causaria um incêndio em um vilarejo? Momentos depois, ele, finalmente, despertou:

— Doutor, o que diabos aconteceu?

— … Vou lhe poupar do esforço, John. Dado que você descobriu seu nome, imagino que tenha descoberto… outras coisas. Você é um membro do Exército Libertador da Luz Brilhante, uma organização terrorista antissemita. Você passou sua vida inteira sendo treinado em combate para erradicar as “raças” que seus superiores — e, presumidamente, você — achavam inferiores à deles. Você participava da Unidade Python, especializada em menores grupos e localizações, como vilarejos e cidades pequenas. Sua unidade era encarregada de massacrar  esses locais, garantindo que ninguém restasse — e, em todas as vezes que entrou em combate, você se provou brilhante em seu trabalho — disse o Psicólogo, sem medir palavras. Continuou:

— A ELLB comandava diversas operações secretas, das quais muitas delas nós não sabemos sobre. Você foi o único membro deles que restou — que nós sabemos sobre, claro — e, por você, esperávamos obter informações sobre a organização em que participava. Por culpa das circunstâncias em que você se apresentava, teríamos de restaurar essas informações primeiro, considerando que você perdeu sua memória. A peculiar melodia que você afirmou demonstrar interesse sobre na nossa segunda sessão tinha justamente esse objetivo: auxiliar na restauração, na cura de sua memória. Ainda estando em estado experimental, este método se provou especialmente eficiente em você — entretanto, acabou sendo mais eficiente do que deveria ser, tratando de você literalmente da noite pro dia.

John estava completamente boquiaberto. Tinha ele realmente matado todas essas pessoas? Tinha ele realmente sido… um terrorista? Ele realmente não queria acreditar, entretanto, tudo isso fazia muito sentido e a sua memória parecia concordar.

Com lágrimas em seus olhos, disse:

— Não… Não, não, não, NÃO! Eu não posso ter feito isso… Eu não concordo com isso! Não, não pode ser…

— Gostaria que eu estivesse errado também. Você agora estando ciente da sua condição, tem duas escolhas: obter prisão perpétua pelos seus atos, ou nos contando tudo sobre a organização em que participou.

John não tinha mais nada a perder. Desejando tomar uma última decisão remotamente positiva em sua vida, ele contou tudo que sabia, sem omitir nenhum fato. Ficaram horas conversando, ele revelou informações inéditas para o Psicólogo, que anotava tudo em seu pequeno caderno.

Saindo do escritório, não conseguia pensar em nada. Chegou em seu lar, abriu o armário, e pegou a corda que há tempos não saía de lá. Decidido, amarrou-a no teto sujo de seu apartamento e fez um nó cego com a maioria do restante da corda.

— … Eu sinto muito — disse-o logo após acabar com a própria vida como uma dedicatória para todos os que matou, acreditando não ser mais merecedor de viver

2º lugar - Mauricio Machado Marion

A promessa de 40 anos    


E depois, chegou no cemitério com a gaita de boca.

Vejo uma imagem de uma mulher com um véu, ela segura o que parece ser um menino, cheiro de flores  e um altar bem na minha frente, ouvi um toque de sino familiar, as badaladas que ouvi quando meus pais e avós faleceram.

- Aí que me dei conta: estava morto.

Lembrei então dos bons momentos vividos naquela comunidade, boas conversas dos jogos de baralho e bocha, e do meu grande amigo Eduardo que era meu companheiro para  beber naquele balcão empoeirado muitas histórias, causos, piadas e assuntos  sobre terra, a tinta das paredes descascadas, o barulho dos homens na cancha de bocha gritando e das bochas batendo,  cerveja abrindo. 

Num domingo específico, encilhei o meu cavalo baio e deixei o rancho para ir tordiar na bodega, quando me aproximei vi o Eduardo e gritei:

- Porco canê, Eduardo,  quanto tempo.

Então  nós sentamos e passamos horas  conversando até que eu dei uma ideia, o primeiro que morresse iria tocar gaita no velório do outro.

-Eu estava meio aflito, minha família chorando, amigos e parentes que não via a tempo. Tentei dizer olá, mas não me ouviam.

Em meio a  uma roda ao redor do meu caixão vejo um homem cambaleando. Eduardo! Avisto ele com roupas rasgadas e sujas, seu olhos azuis embriagados de choro, seus cabelos pretos bagunçado e despenteados,  vi ele puxar a velha gaita do bolso e começar a tocar, abandonadas o coração de todos que estavam presentes,  uma promessa feita a mais de 40 anos sendo cumprida. 

E quem diria que 14 anos depois o meu neto se tornou professor e amigo do neto do meu amigo Eduardo. A amizade é algo surpreendente e incrível quando é verdadeira.

3º lugar - Manuela Peiter Claro

O Ladrão de Girassóis

Uma bela jovem estava em seu quintal, regando suas plantas alegremente, em um dia quente e ensolarado, com o sol da manhã refletindo em seu lindo vestido branco. Quando, de repente, notou algo estranho, alguma coisa estava errada, ela pensou, então, na hora de regar seu maravilhoso girassol… Girassol? Que girassol? Vejo apenas um vazio…

A jovem gritou, e seu amigo, um rapaz meio desajeitado, que era seu vizinho, veio correndo a seu socorro, ela contou tudo para o amigo, que escutava os relatos com cuidado e interesse.

Enquanto isso, outro colega chegava do trabalho, escutando toda essa barulheira, espantado, o homem elegante pergunta o que aconteceu. A garota conta o incidente do girassol novamente. Assim que terminou o relato, o rapaz desajeitado sugere que ela pode ter sido vítima de um roubo. Roubo? Ela pensou, desesperada. Quem teria me roubado?

Os dois rapazes se entreolharam, então, o jovem mais elegante, resolvendo acabar com o silêncio, perguntou se a moça gostaria de tomar uma xícara de chá em sua casa, que era na frente da moradia da mais bela, para se acalmar e pensar no assunto com mais clareza.

Chegando no destino, a garota nota um girassol na casa do colega. Com as suspeitas sobre o amigo aumentando, ela pergunta, em um tom desafiante e sarcástico, se o ladrão ainda estaria perto, lançando ao rapaz elegante, um olhar cortante. O moço, que nada de bobo era, perguntou o que a moça estaria insinuando com essa pergunta, e os dois começam a discutir, deixando o amigo desajeitado, nervoso. Numa tentativa de acalmar a dupla furiosa, o mesmo sugeriu que todos fossem para suas casas para pensar melhor no assunto e discuti-lo no próximo dia.

No dia seguinte, os amigos, que agora estavam mais calmos, se reencontraram na casa do rapaz, que agora, além de elegante, era suspeito. Nisso, o mesmo se desculpa à bela amiga, enquanto explica que o girassol era um presente de sua mãe e, ao mesmo tempo alcançando uma xícara de chá para cada um (já que da última vez não deu certo).

Pazes feitas, amizades reconstruídas, xícaras cheias de chá, um silêncio profundo, e um girassol, perdido, em algum lugar deste vasto mundo misterioso, fora das mãos de sua dona. A moça bonita, ainda com incerteza se o amigo estaria mentindo ou não, perguntou novamente se o rapaz tinha certeza que o girassol era de uma loja, comprado, e não roubado dela. O suspeito, por mais que de saco cheio com a pergunta da garota, respondeu-a calmamente, que ele tinha certeza de que o girassol não era dela.

O jovem desajeitado, que estava quieto por todo esse acontecimento, ainda nervoso, estava à beira de suar, queria apenas ir para casa e se jogar na cama, longe de todos, longe do girassol, longe do mundo, longe até dele mesmo (se é que isso era possível). O outro garoto, sendo um sujeito bastante inteligente e observador, enquanto sendo julgado, notava que o colega estava estranhamente nervoso, quieto, o que não era seu comportamento habitual. Decidiu perguntar se estava tudo bem, com um tom de que ele sabia o que estava havendo, a garota, que foi interrompida durante seu sermão, olhou para o jovem nervoso, que agora estava suando. Ele sentia o suor pingar em sua calça, os olhos diretamente virados para ele, a sensação de julgamento, ele estava sendo julgado, estava sendo acusado. Um sentimento de culpa invadiu o mesmo, ele não respondeu o rapaz elegante.

O mais fino, agora sem paciência, levantou de sua cadeira, começou a erguer o tom de sua voz, fazendo acusações, pensou o desajeitado, a culpa estava o consumindo, não estava ouvindo as vozes de seus amigos, mas conseguiu sentir que a garota também saiu de seu assento, agora gritando com ele também. A dupla estava o acusando, não tinha um advogado para o defender, pensou ele, e não conseguia mais se conter. Fechou os olhos, e admitiu, admitiu o roubo do vaso de girassol, foi ele, o criminoso, ele que armou todo o plano, ele que pensou na hipótese de o girassol da moça ter sido roubado, ele que recomendou eles se acalmarem, ele, que estava do lado dos dois a todo o tempo, pensando onde o girassol poderia estar, o girassol, que estava na casa dele, o tempo todo.

Os outros dois, que ficaram chocados com a notícia, incrédulos, estavam lá, com a boca aberta, sem falar nada, de pé, congelados. A garota, que conseguiu se recuperar primeiro, perguntou, quase chorando, porque ele fez isso, porque ele roubou seu girassol. O jovem, ainda muito nervoso, que neste instante estava chorando, disse que tinha inveja, inveja da moça e seu belo girassol, tão belos quanto a dona e a luz do sol que refletia em seu vestido branco.

O dia se passou, agora o girassol em seu lugar, o crime estava resolvido, e os amigos, por mais que ainda chocados com a notícia, estavam calmos, e a garota, que decidiu pensar em algo para se redimir com o amigo (por mais que não precisasse), passou no mercado. Eles se reencontram na casa do rapaz elegante, confusos, ainda chocados, até que a moça resolveu falar o motivo da reunião, deu uma lição de moral ao seu amigo, que roubou seu girassol, porém por mais que não conseguisse ficar brava de verdade com o colega. Lhe deu um saquinho com sementes de girassóis, o garoto, confuso, perguntou para que servia aquilo, e a mais bela lhe respondeu, que iria dar para ele sementes desta planta, se o mesmo, prometesse não roubar mais ninguém, e que criasse suas próprias plantas, sem machucar nenhuma pessoa, e que se precisasse de ajuda para cuidar dos girassóis, podia contar com os dois amigos.


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